Em um café bárbaro: confortável sofá; chá mate, um expresso e uma água
de côco. Um diálogo a três lento, passível, calmo. Ela ali, com olhares cheios
de verde, uma essência hipnotizante, um ar blasé tão charmoso. Perdurou naquela
conversa uma viagem pelo passado, pela idade dos frascos, pelos perfumes de
qualidades tão distintas. Sim, eram três; mas dois apenas.
Começara com saudades saudáveis, sem analogia proposital, a vontade de
se ver. O combinado era nos vermos com certa urgência, certa necessidade. Moça
tão cativa, me fazia ansioso para conversar. Relembrar acontecimentos passados
e sorrir sarcasticamente, para assim ver que o que tinha passado, de certo, fora
proveitoso.
Foi em um domingo, véspera de compromissos importantes, que decidimos nos
ver. Aproveitar o tempo ocioso do feriado, geralmente regado a sono. Encontramos
um ao outro no meio de uma praça lotada, e a vejo com aquele
sorriso impactante, o mesmo que já me deixara muitas vezes até sem graça, só
de encarar.
Brincamos, conversamos, trocamos carícias verbais. Algo tão delicado
quanto uma amizade ainda tímida. Nada realmente foi dito de propósito. Não para
aquele clima subir tão agradavelmente. Prefiro admitir que foram pensamentos
até um pouco inaceitáveis e descabidos, não fosse os comentários dela, que
amenizaram meu repreender. Longe de mim chamá-la de pretensiosa, mas deixo meu
ego de falsa modéstia falar por mim, e ainda ponho a culpa no eu-lírico, facilmente cativado por mulheres perfeccionistas com línguas.
Eu afirmo, com fé em meu falho sentido para sinais, que aquilo não era
uma conversa saudável para uma amizade formal. Estávamos cometendo um
assassinato ao pudor. E eu estava achando aquilo perfeito. Eram alfinetadas sadicamente
sonsas, eram olhares rasgados, eram bocas...
...Destruidoras, eram essas palavras. Essa linguagem não-verbal me fez
parar de encará-la, para ter certeza de minha sobriedade. Até que um elogio tão
excêntrico, tão inesperado, fez-me deixar a imaginação aflorar. Foram bárbaros os momentos finais da batalha pelo melhor das provocações implícitas, pela
conversa tão tocante.
Faço-me voz da verdade e digo a todos para aproveitarem e explorarem a
língua portuguesa, a alemã, a francesa. Só não percam tempo com a língua sem
cultura; essa, não se deve ter nem excitação em provar.
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